Amada

Outra vez estou esperando aqui nesta tenda. O sol já se pôs há muito tempo, e ele não vem.


Outra vez estou aqui esperando. Hoje estou mais perfumada, cabelos frisados, joias caras, roupas de linho, olhos marcados, uvas doces, pão assado, a tenda toda enfeitada, e ele não vem. 


Outra noite e ainda o espero. Já se passaram tantas luas, já fiz de tudo e ele não vem. Rasguei minha melhor roupa, olhos borrados, corpo coberto de cinzas, hoje visto roupa de saco. Oh! Deus de Abraão e Isaque, eu só te conheço de ouvir falar. Atente para o desprezo desta mulher cansada de lutar.


Então O Senhor viu que eu era desprezada, atendeu minha aflição e me deu um filho que chamei de Rúben e significa: Eis um filho. Depois disto eu realmente acreditei que meu marido me amaria por mera ilusão novamente. 


Por que ele não me olhava nos olhos quando eu falava e me respondia com tanta frieza? Porém O Senhor me ouvia e me deu mais um filho, a quem chamei de Simeão e significa: Ele ouviu.


Engravidei pela terceira vez e estava certa de que este filho nos uniria finalmente. Este chamei de Levi que significa: unido, ligado. Três filhos e absolutamente nada mudou, nem o abatimento que transpassava minha alma dia após dia.


Cordeiro, ervas, especiarias. Que aroma delicioso! Passei boa parte do dia preparando o melhor guisado da minha vida para oferecer a ele. O que eu queria? Pelo menos um simples elogio, elogio este que não recebi.


Estava cansada de tentar chamar atenção, estava cansada de cavar poços secos, estava cansada de correr atrás do vento. Oh! Senhor, me dê mais um filho e este será para seu louvor. Na verdade não tive o coração inteiro neste pedido. Sim, O Senhor foi fiel e concebi mais um filho, que chamei de Judá e significa: exaltado, glorificado. Embora no fundo ainda ansiava conquistar o afeto do meu marido em vão. Depois disto parei de gerar e entrei em desespero. Cheguei em um estado deplorável que me levou a uma humilhação ainda maior. Ao entardecer quando ele estava voltando do campo, corri para ir ao seu encontro e com a respiração ofegante o agarrei e implorei para que ele passasse alguns momentos comigo aquela noite. Não só implorei como também tive que dar algo em troca para desfrutar. E mais uma vez tudo aconteceu por obrigação e eu já deveria saber que seria assim, afinal eu não tinha os olhos dela, os cabelos dela, o cheiro dela, a voz dela, a formosura dela, eu nunca seria ela!


Então, O Senhor me recompensou com mais um filho, o qual chamei Issacar que significa: recompensa. Passado um tempo gerei outro menino que chamei Zebulom, significa morada, pois este era meu desejo, que o meu marido morasse comigo. Por último dei à luz minha menina Diná, a chamei assim por significar julgado, para que O Senhor julgasse a minha causa em meu favor.


E foi assim que O Deus de Abraão e Isaque me deu sete filhos, saudáveis, fortes, formosos, que eram minha alegria e meu motivo de orgulho. Eu apreciava cada um com suas personalidades peculiares e não importava o que eles fizessem meu afeto não diminuía, eu certamente morreria por eles. 
Embora eu fosse a primeira, nunca fui prioridade na vida do meu marido e com meus filhos não foi diferente, eles nunca foram os preferidos. Analisando com imparcialidade, nós dois fomos vítimas, sofremos a injustiça de sermos casados por imposição. Eu não era a mulher que ele escolheu e por quem pagou um preço caro para se casar, tampouco ele era o homem que eu idealizei nos meus sonhos de menina. 


Nesta jornada eu lentamente fui morrendo para mim mesma, e sem perceber já estava pronta, com o coração inteiro para viver algo de valor superior com toda a minha alma e com todas as minhas forças.
Qual seria o propósito da vida? Conquistar o amor do meu marido?
Outra vez estava na tenda em companhia da solidão, já era noite, ao redor um silêncio absoluto. Eu estava disposta a encontrar e conhecer Aquele que só me ouvia falar e finalmente me rendi. Levantei, coloquei azeite na minha lamparina e saí sozinha ao Seu encontro no vale de Jaboque. No caminho eu senti muito medo, estava tudo escuro, gelado e tive que andar bastante até chegar lá, mas quando cheguei meu verdadeiro amado já estava me esperando.
Não, eu não precisei lutar com Ele a noite toda e não fui ferida em nenhum lugar. Ele enxugou as minhas lágrimas, pediu para eu levantar a cabeça e olhar nos Seus olhos. Meu corpo todo tremia, a atmosfera mudou, tudo ao redor sumiu, senti uma alegria inexplicável, uma mistura de temor e coragem. Nunca havia experimentado nada igual, um amor tão forte e pleno que me constrangia e que não precisei competir para conquistar. Ele pediu para que eu observasse novamente o significado dos nomes que eu havia dado aos filhos do meu ventre, porque neles havia um segredo, um significado profético. Naquele momento caí prostrada de joelhos adorando. Como algo tão precioso foi confiado a mim? Logo eu, a rejeita desde sempre. 
E foi assim que naquela noite despertei, descobri de Quem eu sou e quem eu sou. Já no caminho de volta não tinha mais medo da escuridão nem tampouco da rejeição. Não preciso mais carregar o fardo pesado de ser Lia, Ele mudou meu nome para Amada.

ESTE TEXTO É UMA INSPIRAÇÃO POÉTICA BASEADA NAS PASSAGENS BÍBLICAS CHAVES

Gênesis capítulos 29 ao 33

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